quinta-feira, 05 junho 2014 11:24

Pensar “fora da embalagem”

Com um catálogo de mais de 18.000 produtos, a Hama é uma das maiores empresas de acessórios (A/V, fotografia e telecomunicações) do mundo, com uma história que remonta a 1923, quando foi fundada sob o nome Hamaphot.
Uma grande percentagem dos produtos no extenso catálogo da Hama chega ao consumidor final através de embalagens colocadas em expositores nas lojas – aquilo a que chamamos genericamente "blisters", mesmo quando estas embalagens não são produzidas em matéria plástica.


Como consumidores finais não pensamos sequer duas vezes no "blister", mas este é bastante mais do que uma caixa de cartão ou plástico para proteger o produto: é através desta embalagem que o consumidor trava o primeiro contacto com o produto e, em muitos casos, este é um fator decisivo no momento da compra.


Isto acontece porque o consumidor assume, de forma inconsciente, que uma embalagem de qualidade, bem desenhada, tem lá dentro um produto que corresponde a esses mesmos parâmetros. Ao contrário de uma opaca embalagem em cartão, o "blister" em matéria plástica tem a vantagem de dar – literalmente – transparência ao processo de escolha por parte do consumidor. Em vez de este projetar a qualidade da embalagem exterior num produto que não está realmente a ver, o blister é uma espécie de mini-montra de um só produto; a decisão da compra pode ser feita com base naquilo que se vê e não apenas no que se imagina e que pode, ou não, corresponder à realidade.


Há produtos em que a sua visualização através da transparência do blister é irrelevante (a qualidade de cartão de memória, por exemplo, mede-se pelas suas características técnicas e não pela sua qualidade de construção aparente) mas existem outros nos quais a embalagem é não apenas importante mas fundamental no momento de decidir a compra.


Uma embalagem funcional


Um desses casos é o dos acessórios para equipamentos móveis, designadamente para os smartphones e tablets, área em que a Hama tem grande experiência, até porque é uma das empresas com licenças oficiais dos principais fabricantes.


Uma visita a uma grande superfície comercial mostra muitos metros de "linear" com dezenas, ou até mesmo centenas, de capas, bolsas, suportes e protetores para smartphones e tablets. Até há relativamente pouco tempo, a Hama adotava a mesma abordagem que a maioria das marcas de acessórios deste género: uma embalagem em cartão e plástico que deixava o consumidor ver o produto e, nalguns casos, uma abertura no plástico do "blister" através do qual o potencial interessado era capaz de testar e "sentir" a textura do material.

 

E aqui começavam os problemas: a abertura no "blister" para testar o material acabava por ser um ponto de sujidade no próprio produto, acabando por criar uma devolução. Pior, estes produtos, sobretudo as capas de nova geração para smartphones e tablets, começaram a oferecer funcionalidades que não podiam ser sequer testadas pelos potenciais interessados.


O resultado prático: consumidores que não percebiam a diferença entre dois produtos; ou consumidores que destruíam o "blister" (o que tem como resultado uma devolução da loja à marca) para tentar perceber se e como funcionava o produto no seu equipamento.


Num setor como o dos acessórios, onde as perdas por embalagens destruídas ou danificadas pode ultrapassar os 10%, a Hama decidiu que precisava de fazer algo radical – tanto mais que os seus produtos estavam precisamente na categoria dos que oferecem funcionalidades avançadas que lhes conferem um elevado grau de diferenciação face à concorrência.


A quadratura do círculo


O objetivo a que a Hama se propôs parecia ser uma espécie de quadratura do círculo: criar uma embalagem que permitisse ao consumidor testar todas as funcionalidades das capas para smartphones e tablets mas, ao mesmo tempo, fazê-lo preservando a integridade da própria embalagem, de forma a reduzir as perdas por destruição de "blisters".


A decisão de conceber novas embalagens foi tomada em meados de 2013 e, após cerca de 5 meses, uma equipa interna da Hama conseguiu o objetivo ao qual se propôs. Uma das primeiras linhas de acessórios a receber as novas embalagens, curiosamente chamada "Lisboa" ("Lissabon", em alemão), chegou ao mercado no final do ano passado.


O êxito da nova abordagem foi instantâneo, tendo sido atingidos de imediato os dois principais objetivos pretendidos: redução do número de devoluções motivadas por embalagens em mau estado e aumento das vendas devido à possibilidade de testar o acessório.


Uma das abordagens para conseguir demonstrar a funcionalidade dentro da embalagem foi a inclusão de um "mock-up" do produto (smartphone ou tablet) e uma embalagem inteligente produzida em cartão e pensada de forma que permite ao consumidor usar o acessório sempre dentro da embalagem mas como se estivesse fora dela.


A equipa de desenvolvimento da Hama (que entretanto registou o desenho industrial destas embalagens, únicas no mercado), viu-se confrontada já este ano com um novo desafio: uma nova linha de capas reversíveis para tablets, que podem ser usadas dos dois lados, com duas cores diferentes. Mesmo neste caso, foi possível criar uma solução que permite ver como é que a capa se comporta quando usada das duas formas sem nunca a retirar da embalagem.
Quem diria que no mundo dos acessórios de tecnologia, a inovação podia estar no humilde "blister"?

 

Filipe Barbosa, Managing Director da Hama Portugal

 

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