“Mais de 600 mil já estão inscritas na Jornada Mundial da Juventude, mas são esperadas mais de um milhão de pessoas. Um evento de proporções raramente vistas em Portugal, todo ele concentrado na Grande Lisboa, particularmente na zona oriental da cidade, num espaço de 100 hectares, o que equivale a outros tantos campos de futebol.
Só estes condimentos são capazes de gerar um “nervoso miudinho” em quem está na grande distribuição, retalho ou logística. Basta pensarmos que não sabemos se serão 600 mil ou 1,2 milhões de almas (ou mais). Um desvio de “apenas” 100 por cento.
Mas, como se não bastasse esta imprevisibilidade, não temos histórico/indicadores deste tipo de eventos para benchmark, teremos acessos fechados ou muito condicionados, não sabemos quanto tempo antes virão e se ficarão depois de terminar a JMJ, quais os hábitos de consumo ou, com grande grau de certeza, como serão as condições meteorológicas (influenciam o consumo de alimentos e bebidas durante o evento). Desenham-se planos de contingência com base em pressupostos muito teóricos.
No final, já é sabido, depois de muito improviso e desenrascanço, tudo correrá bem e seremos nós o benchmark.
Ora, como todos sabemos, o improviso corre sempre bem, quando é preparado. É o que assisto em diversas insígnias da distribuição e seus fornecedores que, há quatro meses, estão a trabalhar para que nada falte. Da articulação com a produção, para reforço de bens que se estima sejam mais consumidos, aos os kits peregrino, com lanches, abastecimento total dos stocks em lojas e armazéns, criação de pequenos armazéns de proximidade, articulação com as autoridades e parceiros logísticos, para abastecimentos no decorrer da JMJ, enfim, um sem-número de medidas tomadas pela distribuição para que nada falte.
E, se a JMJ decorre na Grande Lisboa, estima-se que esse impacto se estenda por muitos quilómetros em volta da capital e em larga escala, afetando, não apenas a cidade-sede do evento, mas também os distritos adjacentes, como Setúbal, alcançando mesmo regiões mais ao norte, até Coimbra. É o que as cadeias estão a “improvisar”.
Falamos de distribuição e, sobretudo, em produtos alimentares, mas, se pensarmos no retalho e o impacto que tem a suspensão temporária do Acordo Schengen durante o evento, também existem implicações significativas no comércio, afetando, por exemplo, a importação de flores da Holanda (um produto sempre muito procurado em eventos religiosos), o que tem um efeito direto nas vendas das floristas. E, neste caso, um produto que não pode ser armazenado com semanas de antecedência, ao contrário da água. Aquele que será, garantidamente, ‘o’ produto mais consumido, tal como sumos e refrigerantes. O quanto, veremos, consoante a temperatura. Para já, apenas adaptar o adágio popular: “Refrigerantes e água (que não a benta!), cada retalhista que armazene a que puder”.
Como vemos, um evento de proporções e implicações sem precedentes, que nos coloca desafios logísticos e de distribuição que poderia caraterizar como “bíblicos”. Um teste, como nuca antes tivemos, à articulação entre produção, logística e distribuição.
Ainda poderíamos refletir sobre o impacto que esta mega operação terá nas habituais e complexas campanhas de verão e de regresso às aulas, mas creio que já ficamos com muito para prever, levar a cabo e tirar ensinamentos.
Sara Monte e Freitas, Partner da Expense Reduction Analysts
Fonte: Store Magazine