Segundo o mesmo documento, assistiu-se, também, a um decréscimo de 7,1% no volume de negócios durante o ano de 2022. Este é um bom ponto de partida para uma reflexão sobre os atuais desafios da Distribuição, em especial em Portugal, onde a APED é a instituição de referência para promover o debate e apresentar soluções.
Como podem as empresas responder a este contexto europeu, que não difere do que se passa em Portugal?
A resposta passa pela permanente renovação e fortalecimento das suas propostas de valor para o consumidor, num ambiente de intensa e livre concorrência, com uma oferta e práticas de negócio que primam pela sustentabilidade, tanto ambiental como social, implementando com sucesso a necessária transição digital, tudo através da formação e requalificação das suas Pessoas.
Estas são as prioridades dos retalhistas também em Portugal, e a estratégia da APED para os próximos quatro anos passa pela mobilização de todos os associados para superar estes desafios, contribuindo decisivamente para um desenvolvimento favorável do contexto em que se opera e para a consolidação da reputação do sector pelo reconhecimento do seu papel positivo na sociedade.
A Direção que lidero, suportada pela equipa altamente profissional da Associação, está motivada para apoiar os retalhistas no processo de consolidarem a Distribuição como um sector indispensável para o futuro do país, um ecossistema critico na recuperação e desenvolvimento económico, com um impacto positivo nas comunidades que integra.
A competitividade, enquanto parte do ADN do setor, é um fator que impele diariamente os nossos associados a procurarem oferecer o leque mais vasto de produtos que respondam às necessidades dos consumidores a preços atrativos. Os retalhistas fazem da competitividade e da concorrência os pilares da sua forma de estar, atuando de forma ética, responsável e sempre na defesa dos interesses dos consumidores.
Na APED, temos desenvolvido, e continuaremos a desenvolver, modelos de relacionamento justos com todos os parceiros na cadeia de valor, e a defender práticas comerciais equilibradas como instrumento para um crescimento sustentável. Em articulação com os diferentes elos da cadeia, promovemos acordos de autorregulação, guias de boas práticas, damos contributos construtivos aos legisladores e desenvolvemos campanhas de sensibilização junto dos consumidores.
Com vista à criação de valor partilhado, os retalhistas em Portugal já assumiram há muito que a sustentabilidade é um fator decisivo e transversal a toda a sua atuação. Sabem que investir nesta área e integrar a agenda da economia circular e da ação climática na estratégia de negócio é elevar a sua proposta de valor e, por essa via, potenciar o crescimento futuro. Para além da implementação do Roteiro para a Descarbonização do setor, uma iniciativa coletiva fundamental desenvolvida pela APED e de adesão voluntária, que visa a neutralidade carbónica do setor até 2040, na qual estamos a envolver cada vez mais associados, temos um track-record que não deixa dúvidas sobre a força do nosso compromisso neste domínio. Na economia circular, contribuímos para testar o futuro Sistema de Depósito e Reembolso de Embalagens, gerindo projetos-piloto que têm merecido avaliações positivas por parte dos diferentes stakeholders. O setor tem voz ativa e atuação decisiva no combate ao desperdício alimentar, doando milhares de toneladas de produtos a mais de mil IPSS, razão pela qual a APED fez da defesa de uma correta abordagem fiscal a estes donativos uma das suas bandeiras, a par do desenvolvimento de campanhas de sensibilização junto dos consumidores.
Também a transição digital não é apenas um desígnio, é já uma realidade no setor e em processo de aceleração face à rápida evolução vivida nos últimos anos. A Distribuição é um dos setores que maior contributo tem dado para este movimento, aplicando os novos desenvolvimentos tecnológicos a realidades como o e-commerce, a introdução da robótica nos processos de logística, da inteligência artificial, do blockchain e dos smart payments.
De facto, os retalhistas procuram tirar partido das novas tecnologias para conhecer melhor os seus clientes e melhorar a experiência destes, para tomar decisões mais bem informadas assentes em análise de dados, para implementar metodologias e processos que melhorem a eficiência operacional e a competitividade.
À APED, compete acompanhar e antecipar os desenvolvimentos na regulação do digital, defendendo a sua adaptação às novas tecnologias de forma equilibrada, que simultaneamente não deixe ninguém para trás e não constitua um entrave à inovação e à mudança.
Finalmente, no centro de toda a estratégia do setor da Distribuição, estão as Pessoas, o seu maior ativo estratégico e a força motriz que todos os dias contribui para o desenvolvimento económico e para a criação de mais postos de trabalho.
Os números não deixam dúvidas: em 2022, o nosso setor representava mais de 12,4% do PIB português; contamos com mais de 144 mil colaboradores (104 mil no retalho alimentar e mais de 40 mil no retalho especializado), distribuídos por mais de 4.500 lojas; o setor criou, nos últimos quatro anos, 6.000 novos postos de trabalho, a par de um investimento superior a 150 milhões de euros na formação e requalificação dos seus colaboradores, respondendo a necessidades atuais e antecipando futuras, e reforçando competências.
Para reforçar a atratividade do setor e das suas carreiras, é fundamental continuar a promover a qualidade das condições laborais, a igualdade de género e os esforços para equilibrar a vida pessoal e a profissional. A APED quer contribuir para a evolução do ambiente regulatório e contratual no sentido da defesa destes princípios, acompanhando as novas realidades do mercado do trabalho, as necessidades dos cidadãos e as novas tendências da sociedade e dos estilos de vida.
O contexto económico e social que se vive atualmente no país, muito influenciado pela inflação e pelo aumento dos custos de produção, exige um setor especialmente atento, responsável, solidário e mobilizado. Nunca é demais recordar que a Distribuição nunca fechou portas durante a pandemia ao mesmo tempo que investiu fortemente na proteção e segurança dos seus colaboradores, e que tem feito um esforço para acomodar a subida de custos verificada a montante na cadeia, absorvendo nas suas margens parte desse incremento para não passar para o consumidor a totalidade do agravamento de custos. Nesta envolvente difícil, a APED cedo alertou para a necessidade de uma resposta concreta, ponderada e assertiva. Os dados apresentados por entidades independentes nacionais e internacionais permitiam perceber que para fazer face à escalada inflacionista não bastava a ativação de um dos elos da cadeia – e certamente não apenas da Distribuição como elo final - mas havia que mobilizar e apoiar também a produção e a indústria, e aliviar a carga fiscal dos produtos essenciais para as famílias.
O tempo veio dar razão aos apelos e às explicações que fomos dando publicamente e em diferentes fóruns e foi possível, com esforço e espírito construtivo, encontrar uma solução através do diálogo e do estabelecimento de um entendimento entre o Governo, a Produção e a Distribuição. A assinatura do pacto para a estabilização e redução dos preços dos bens alimentares, com a redução do IVA num conjunto de 46 categorias de produtos, foi uma medida importante para as famílias, mesmo se, como sempre dissemos, não é nem pode ser vista como solução suficiente para a questão da subida do preço dos alimentos. O mercado continua a funcionar, e sem a chegada dos apoios necessários à produção, essenciais para fazer face ao acréscimo de custo dos fatores de produção, agravados por condicionantes tão díspares como a seca ou a peste suína, apenas para dar dois exemplos, será difícil que os preços finais aos consumidores baixem e estabilizem de acordo com as expetativas de todos os atores envolvidos. Em linha com o que vinha fazendo desde antes do acordo formalizado, a Distribuição está a fazer a sua parte e a cumprir escrupulosamente o que assinou, e tudo continuará a fazer para ajudar as famílias portuguesas num dos períodos mais desafiantes dos últimos 30 anos.
O futuro do setor da Distribuição constrói-se todos os dias nas suas empresas, com motivação, com inovação, e muito trabalho. É inspirados por este espírito combativo que a equipa e a Direção da APED vão trabalhar ao longo dos próximos quatro anos para continuar a afirmar a Distribuição como um setor decisivo para o nosso país.
José António Nogueira de Brito, presidente da APED
Fonte: Store Magazine